Posted on março 20, 2020
by Ciranda
0 Comments
Qual a maneira escolhida pelo seu colégio para dar voz e protagonismo aos seus alunos? Conheça as 5 metodologias ativas que cumprem este papel e são grandes apostas para o ano letivo
A importância de contextualizar os assuntos abordados em sala de aula, mostrando as reais aplicações dos conteúdos adquiridos e introduzindo acontecimentos atuais na realidade escolar, é fruto de ideias que não são recentes, mas somente agora estão encontrando um momento mais oportuno para se consolidarem.
Há mais de 100 anos, educadores como John Dewey (1859–1952) descreveram os benefícios da aprendizagem prática e dirigida pelo aluno. Há décadas, Piaget (1977) já colocava a aprendizagem como dependente de um processo em que o indivíduo possa interagir com objetos reais e outros sujeitos.
O conceito também vem sendo reforçado nos últimos 25 anos pelas pesquisas em neurociência e em psicologia. De acordo com o Buck Institute for Education (BIE), esses estudos ampliaram os modelos cognitivos e comportamentais de aprendizagem e demonstraram que conhecimento, pensamento, ação e contextos de aprendizagem estão relacionados.
Juntas, as mudanças nos padrões de assimilação de conteúdos, a ideia de autonomia do educando e a acessibilidade que a tecnologia oferece para as novas gerações estão trazendo notoriedade às metodologias ativas de aprendizagem. Elas formam um conjunto de práticas pedagógicas que incentivam o aluno a adquirir o conhecimento de uma forma mais participativa, passando pelo questionamento, a busca pela compreensão de conceitos e como aplicá-los em um contexto real.
Nessa abordagem, enquanto os alunos se tornam os protagonistas, saindo de uma posição cômoda, puramente receptora de informações, os professores atuam como mediadores ou facilitadores do processo, não são mais os detentores do conhecimento.
O aprendizado ativo pode assumir muitas formas e ser executado em qualquer disciplina. Propor ao aluno que escreva um livro, por exemplo, é uma maneira de usar a produção textual para despertar nele a percepção da realidade sob diferentes pontos de vista. Leva o indivíduo a uma participação ativa na aprendizagem, condição básica para o protagonismo. É o caso da Ciranda de Livro, instrumento de metodologia ativa, que tem como diferencial o uso de planos literários desenvolvidos por especialistas e que servem de apoio pedagógico para que o professor possa conduzir o processo.
Não importam os métodos escolhidos para trilhar o caminho da inovação. Já é consenso que aderir a um currículo no qual a didática está centrada no uso de metodologias ativas favorece o desenvolvimento das novas competências previstas na educação do século 21. Elas não só possibilitam o crescimento pessoal do estudante, como também o prepara para exercer um papel ativo na sociedade.
Mas num cenário em que as escolas precisam satisfazer a demanda por novas formas de ensino, se contrapondo aos modelos tradicionais, ainda construídos em torno de uma visão fragmentada do conhecimento, como abrir espaço na sala de aula para inclusão das metodologias ativas?
“Antes, tínhamos uma sala de aula mais formal, na qual o professor decidia sozinho. Hoje, queremos alunos protagonistas, ativos, colaborativos e engajados no conhecimento. E nessa construção, estamos saindo da “ensinagem” para a aprendizagem”, avalia o professor Roberson Augusto Marcomini, mestre em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutorando em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UfsCar).
Na opinião dele, as metodologias ativas vieram para complementar o trabalho que já é realizado em aula e fora dela, ampliando as possibilidades de envolver o aluno no processo da aprendizagem e sintonizá-lo com o mercado de trabalho. “Elas permitem que o aluno passe por um processo de transformação, trabalhando com tecnologias, aprendendo a aprender, sendo crítico e, principalmente, sabendo resolver problemas”, explica o professor.
Apesar das vantagens evidentes, Roberson chama a atenção para uma utilização criteriosa das metodologias ativas. “Acredito no princípio filosófico de Aristóteles, do nada em excesso. Nessa perspectiva, costumo comparar as metodologias ativas à uma caixa de ferramentas que devem ser usadas de acordo com a realidade dos alunos. Elas precisam ser vistas como um fator de contribuição à aprendizagem e a missão do facilitador ou mediador desse processo é ficar atento aos alunos para saber como eles estão interagindo com essas ferramentas”, orienta.
Muito se fala sobre as aprendizagens ativas e muito também já se vive em sala de aula. Vemos uma onda de transformações físicas e organizacionais por parte das instituições – também bastante impulsionada pela Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. Mas são muitas as opções de metodologias e instrumentos de aprendizagem ativa. Adicione a essa realidade o resultado constante de novos estudos e exemplos trazidos de toda parte do mundo.
Como, então, escolher a metodologia ideal para aplicar em seu colégio? Se as tendências para 2020 forem um bom caminho, então listamos cinco dos mais falados métodos atualmente. O professor Marcomini, que tem atuação na área de Gestão do Conhecimento, nos ajuda com essa seleção.
É um método bastante atual e, de acordo com especialistas, poderá se tornar dominante em um futuro próximo. Tem por objetivo substituir a maioria das aulas expositivas por conteúdos virtuais.
Nesse modelo o aluno tem acesso aos conteúdos on-line, para que o tempo em sala seja otimizado. Isso faz com que ele chegue com um conhecimento prévio e apenas tire dúvidas com os professores, podendo interagir com os colegas para fazer projetos, resolver problemas ou analisar estudos de caso.
Além de incentivar o interesse das turmas nas aulas, o método faz com que a classe se torne mais participativa, melhora a concentração e dedicação dos alunos e beneficia a classe com um melhor planejamento de aula e com a utilização de recursos variados, como vídeos, imagens e textos nos mais diversos formatos.
Combina atividades com e sem o professor, mas sempre com o uso de tecnologia. Dessa forma, possibilita que o aluno estude sozinho, com o apoio da internet, e em sala de aula, em grupo ou com o professor. E abre espaço para o pensamento crítico, afinal os estudantes têm a oportunidade de compreender os assuntos de maneira mais aprofundada e, ainda, levar questões e curiosidades para a aula.
O método da aprendizagem baseada em problemas tem como propósito tornar o aluno capaz de construir aprendizado, conceitos, procedimentos e atitudes por meio de problemas propostos que o expõem a situações motivadoras e o prepara para o mundo do trabalho. Enquanto a aprendizagem baseada em projetos – outra importante metodologia ativa de ensino – exige que os alunos coloquem a “mão na massa”, a aprendizagem baseada em problemas é focada na parte teórica da resolução de casos.
Significa adotar a lógica, as regras e o design de jogos (analógicos ou eletrônicos) que estejam vinculados ao conhecimento das disciplinas para tornar o aprendizado mais atrativo, motivador e enriquecedor. Está entre as estratégias mais eficazes para potencializar o aprendizado e proporcionar engajamento dos alunos.
É instigante, pois se vale de comportamentos naturais do ser humano, como a competitividade, a socialização, o desejo de ser recompensado por um trabalho bem-feito e a sensação de vitória. Mas tudo dentro de limites saudáveis, que estimulam o pensar “fora da caixa”.
Ao utilizar o design dos jogos em atividades pedagógicas, a sala de aula passa a ser um ambiente atraente e desafiador na busca pelo conhecimento. Além disso, haverá aumento da participação, melhora na criatividade e autonomia, promoção do diálogo e foco na resolução de situações-problema.
A aprendizagem entre pares, como o próprio nome revela, se trata da formação de equipes dentro de determinada turma para que o aprendizado seja feito em conjunto e haja compartilhamento de ideias. Seja em um estudo de caso ou em um projeto, é possível que os alunos resolvam os desafios e trabalhem juntos, o que pode ser benéfico na busca pelo conhecimento. Afinal, com a ajuda mútua, se pode aprender e ensinar ao mesmo tempo, formando o pensamento crítico, que é construído por meio de discussões embasadas e levando em consideração opiniões divergentes.
Aonde sopram os ventos
Além das tendências citadas, Roberson ainda recomenda aos professores que observem o vento das mudanças, atentando para assuntos da interdisciplinaridade, da revolução industrial 4.0, da inteligência artificial, das competências socioemociais e da comunicação não violenta.
Com a experiência de lecionar em universidade, ensino médio integrado ao técnico e ensino fundamental II, o professor garante que a revolução na aprendizagem está acontecendo em todos os níveis, impondo aos agentes da educação a necessidade de se prepararem para atuar em modelos mais atrativos. “É preciso lançar-se ao novo e dar sua contribuição a partir da própria experiência, que nunca poderá ser descarta, mas atualizada. Existem muitos cursos e pós-graduações em metodologias ativas acontecendo em várias faculdades”, aconselha ele.
Para os especialistas, aos gestores cabe sensibilizar os docentes. Mostrar experiências de quem está inovando, criar um grupo de inovação,desenvolver ações de formação continuada ecompartilhar as melhores práticas são formas eficientes para isso.
Percebe-se que planejar metodologias ativas de forma isolada não é suficiente. Elas fazem sentido em um contexto de mudança estruturada. Somente assim, poderão revelar o seu verdadeiro potencial, contribuindo para redesenhar as formas de ensinar e de aprender, a organização da escola, a avaliação, o currículoe o projeto pedagógico.
“Não precisamos fazer dessa mudança uma tempestade de insegurança. Creio que juntos, partilhando o que está funcionando e o que não está, ganhamos em experiência e oportunidade para rever nossos métodos. Nessa jornada, há que se deixar de lado o ganha e perde. Professores e alunos são parceiros nas mesmas trilhas. Todos ganham. São esses fatores que vão garantir a melhor forma de se transmitir oconhecimento: com amor, carinho, afeto e respeito”, avalia Roberson.