Posted on junho 9, 2020
by Ciranda
0 Comments
Tradicional ferramenta extraclasse, a tarefa de casa nunca esteve tão em evidência como agora, em tempos de aulas remotas, mas essa atividade envolve algumas chaves para que seja eficaz e cumpra seu papel na formação integral do aluno
Se há uma ferramenta que se mantém unânime entre os especialistas, independente de tendências e de transformações na educação, ela certamente é a lição de casa. Inclusive, o que se vê – principalmente neste cenário de pandemia e aulas remotas – é um crescimento de sua aplicação impulsionado pela adesão das escolas às metodologias ativas e a busca pela educação integral de seus alunos.
Extensão do conteúdo visto em sala, a lição de casa é uma importante estratégia de absorção de conteúdo e autonomia do estudante, como afirma Patrícia Oliveira, psicopedagoga especializada em alfabetização e psicologia do desenvolvimento de aprendizagem, grande defensora da prática: “Quando nós temos motivação, a aprendizagem fica deliciosa e abre caminho para novas pesquisas. Eu sou defensora da lição de casa, vejo ela como fundamental para o progresso da criança para aprendizagem”.
A lição de casa é também importante quando o assunto é o cumprimento do ano letivo. Para dar conta de todo o conteúdo proposto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), só mesmo lançando mão dessa estratégia.
“Hoje nós temos uma carga horária grande, passamos de 180 para 200 dias letivos há pouco tempo e tivemos outras frentes educacionais que colocam uma grande quantidade de conteúdo para a aprendizagem da criança. Então, se o professor em sala de aula tiver que trabalhar essa grande gama de conteúdo, ele não dá conta e a criança também não”, explica Patrícia, que também é orientadora educacional de Educação Infantil e Ensino Fundamental I no colégio Educap, de Campinas.
Principalmente hoje, que vivemos a ascensão das aulas remotas induzida pela pandemia do novo coronavírus, é grande o número questionamento quanto ao volume de lição de casa e a necessidade de um maior envolvimento da família na hora dos estudos domiciliares.
Mas será mesmo que hoje temos um volume de lição de casa tão maior que antes? É verdade que os pais têm que se envolver muito mais para fazer as tarefas com os filhos do que os pais de gerações anteriores?
“O mundo sofreu uma transformação. Antes a motivação era diferente. Hoje temos muitos estímulos externos, o mundo é muito dinâmico e exige que a criança acompanhe todo esse dinamismo. Um tempo atrás, até a concentração da criança era diferente dos dias atuais, ela conseguia ficar mais tempo engajada na tarefa, enquanto hoje precisa ser mais tempo estimulada para isso”, exemplifica Patrícia sobre a oferta de estímulos e exigências externas que o estudante busca cumprir.
As famílias, em suas mais diversas configurações, também ganharam uma rotina mais dinâmica, exigindo mais esforço dos pais no apoio à criança. Ou seja, não é a lição de casa que aumentou, mas as demandas externas que competem com as questões escolares.
A eficácia da tarefa de casa depende de diversos fatores que envolvem, cada um em seu papel, todos os agentes do processo de aprendizagem: escola, professor, aluno e família. Com a ajuda da especialista Patrícia Oliveira, elencamos seis desses segredos. Confira:
Planejar uma boa aula quer dizer planejar também com muito cuidado a lição extraclasse. Principalmente na realidade das metodologias ativas, em que o conteúdo trabalhado em sala envolve recursos concretos em torno de um conceito para que a criança construa seu próprio conhecimento, a lição de casa precisa ter o mesmo contexto estimulante, dando continuidade ao aprendizado fora da sala de aula.
“Uma lição de casa muito bem planejada vai auxiliar a criança nesse conhecimento novo e vai criando na criança o habito de ela querer aprender mais, pesquisar e fazer escolhas dentro daquele conteúdo a ser trabalho. Hoje nós temos uma dinâmica que permite com que o aluno reflita, pense mais. Então, quando o conteúdo é construído, ele dá possibilidades para que a criança atue sobre este conteúdo e tenha participação na construção do conhecimento”, reflete Patrícia.
Outro detalhe de um bom planejamento de lição de casa é se atentar à quantidade do conteúdo para não sobrecarregar o estudante. A lição de casa não deve ser algo estressante, mas sim, prazeroso, fluido.
Totalmente ligado ao planejamento está o tipo de conteúdo da lição de casa que, por sua vez, precisa ser uma extensão do que foi trabalhado em sala. Não adiante pedir para que o aluno pesquise sobre um assunto novo sem qualquer conexão com seu estágio de aprendizado, apenas para que a criança fique ocupada ou aprenda por si só, de maneira fragmentada.
“Quando ela leva uma lição de casa, ela continua pensando naquilo que aprendeu, faz análises, comparações, levantamento de hipóteses e vai reforçando aquele conhecimento dado em sala de aula. A lição de casa tem que fixar esse conteúdo planejado. Uma boa lição de casa vai trazer para criança a oportunidades de autoaprendizagem, de autoconhecimento, de reflexão, de expressão individual do aluno”, relaciona a especialista.
Patrícia ainda orienta: “Não exija do seu aluno aquilo que não foi ensinado. Mas proporcione ao seu aluno uma forma de questionar, analisar e até trazer outros pontos sobre aquilo que se está se trabalhando. Reflexão de temas é ótimo, fazer perguntas é uma estratégia fundamental”.
O sucesso no desempenho do aluno está diretamente ligado ao modo como o professor orienta e conduz a lição de casa ainda dentro do ambiente escolar. Com base em uma metodologia de trabalho e tendo apoio do sistema educacional escolhido pela escola, é preciso fazer um bom uso da comunicação não só ao estudante, como à própria família, que precisa saber o que deve acompanhar em casa.
Neste item, valem algumas dicas certeiras da especialista Patrícia Oliveira:
Às famílias, uma boa indicação é o uso dos aplicativos de comunicação, que trazem notificações para certificar de que há algo importante a ser estudado aquele dia. Alguns já contam, inclusive, com o módulo “lição de casa”, para orientação detalhada da matéria.
Faz parte do processo de aprendizagem o encerramento do ciclo da lição de casa com a revisão, afinal, um retorno de algo combinado é uma forma de valorizar a independência do aluno e de manter o estímulo a todo esforço e empenho que ele demonstrou. Sem essa resposta, ele pode perder o interesse não só na lição de casa, mas também no conteúdo a ser absorvido.
“O feedback do professor não é aquele de só vistar caderno, recolher folha e dar uma nota. Sem feedback o aluno fica desestimulado. A lição de casa precisa ser corrigida e revisada preferencialmente com o aluno. Revisar uma lição é reconstruir o conhecimento da criança é fazer ela pensar novamente, reforça a psicopedagoga.
Sim, o apoio dos pais é fundamental. É preciso, ainda, que eles estejam ligados à estratégia de aprendizado que está sendo aplicada. Apoiar, porém, não é a mesma coisa que ensinar, muito menos é fazer pelo filho, mas, sim, dar autonomia à criança.
Segundo Patrícia Oliveira, o apoio dos pais é essencial para manter o aluno estimulado e uma boa estratégia é manter-se por perto, sem sentar-se para explicar, lançando mãos de perguntas que façam com que o estudante construa o aprendizado de maneira natural.
“Deixe a criança trazer a informação e se ela estiver equivocada, fale para a criança: ‘Será que foi isso que seu professor pediu? Aqui está dizendo uma outra coisa’. Feito isso, deixe a criança fazer a tarefa, supervisione de longe e diga sempre que está por perto se ele precisar”, explica ela, reforçando ainda que cabe ao professor orientar o pai se deseja que a correção seja feita também em casa ou se ela somente ocorrerá em sala de aula, na revisão.
Por fim e não menos importante é a mecânica da atividade de lição de casa. Cabe à família, considerando a rotina da casa e mesmo as necessidades fisiológicas do filho, estipular um horário fixo diário, um padrão, para o momento tarefa.
Se 15h é o horário determinado para lição de casa, então o aluno e os pais devem se preparar para fazer isso todos os dias, no mesmo horário e com um ambiente e materiais organizados para isso. Se houver alguma alteração, isso precisa ser combinado com o aluno antes.
O tempo de duração deve ser o suficiente para a fixação do conteúdo e não precisa ser muito extenso. “Uma lição de casa de 40 minutos está de bom tamanho para uma criança pequena. Tem aquela que realiza tudo com muita rapidez, em 20 a 30 minutos, mas temos também aqueles que não se concentram, que se distraem e que, desses 40 minutos, podem chegar a uma hora, o que para a criança também não é benéfico, porque ela vai cansando com o tempo”, explica Patrícia.
Você pode conferir mais dicas da Patrícia Oliveira em seu blog.
Confira também a Ciranda em Casa, projeto pedagógico de criação de livro com atividades remotas.