Sono infantil: como identificar problemas e ajudar seus alunos

Deficit de atenção, obesidade e transtornos diversos são alguns problemas relacionados à má qualidade do sono nas crianças; com auxílio do educador, efeitos colaterais podem ser evitados

O segredo para manter a saúde e bem-estar, e até mesmo para viver em plena felicidade, já foi desvendado. E se você sabe do que estamos falando, é porque valoriza boas noites de sono!

Isso porque a forma como respeitamos o ciclo sono-vigília influencia diretamente em diversos fatores do nosso ritmo biológico. Porém, muitos acreditam que esta é uma preocupação somente da vida adulta.

Pois saiba que a qualidade do sono infantil é primordial para o desenvolvimento das crianças, incluindo a aprendizagem.

Afinal, noites mal dormidas refletem não só em desatenção ou irritação, como até mesmo em problemas mais sérios. Existem casos de obesidade infantil e transtornos que são diagnosticados como efeitos colaterais da baixa qualidade do sono das crianças.

E então, percebeu que este problema pode estar impactando seus estudantes? Ou até mesmo os seus filhos? Pois saiba que existem muitas formas de reconhecer e superá-lo! Acompanhe a leitura e veja o que especialistas compartilham sobre o assunto.

Qual a relação da qualidade do sono no desenvolvimento infantil?

Em entrevista exclusiva ao blog da Ciranda de Livro, a psicóloga Giovina Fosco Turco responde esta dúvida ao compartilhar seu domínio sobre o sono na infância.

Mestre em saúde da Criança e Adolescente, Giovina atua como psicóloga clínica há mais de 30 anos e tem vasta experiência em acompanhar esta questão entre seus pacientes. E foi a partir desta trajetória que ela decidiu compartilhar o conhecimento adquirido na carreira no recém-lançado livro “Tenho um Aluno com Transtorno do Sono: E agora?”.

A publicação traz um recorte da sua pesquisa de mestrado realizada na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, na qual relatou a relação entre a qualidade de vida e do sono em adolescentes obesos.

A importância do sono é amplamente reconhecida, tanto quanto são claras as implicações e consequências da ausência de um sono reparador, que permite boa saúde e disposição física e mental”, explica Giovina.

E esta condição pode estar diretamente relacionada não só aos hábitos da rotina infantil, como a distúrbios de sono mais sérios. São alterações no padrão e na qualidade do sono como:

  • Insônia;
  • Pesadelos;
  • Sonilóquio (quando a criança fala ou emite emissão de sons durante o sono);
  • Sonambulismo;
  • Enurese Noturna (emissão involuntária de urina);
  • Ranger de dentes;
  • Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS);
  • Entre outros.

Giovina observa que a redução das horas de sono tornou-se uma característica marcante da sociedade moderna. E, segundo ela, isso resulta em graves consequências advindas dos distúrbios do sono, desde problemas escolares até prejuízos na saúde física e mental.

“Uma vez identificados e tratados, sua qualidade de vida e a da família melhoram, pois o desconforto causado pela falta de sono afeta a todos. Uma adequada higiene do sono deve ser prioridade para todos os membros da família”, reforça.

Dicas para identificar e reverter a baixa qualidade do sono das crianças

Conforme explica Giovina, a privação do sono e a má qualidade de descanso prejudicam o aprendizado, pois afetam a atenção, a concentração, bem como as capacidades intelectuais e produtivas.

Com isso, o problema causa alterações constantes de humor, irritabilidade permanente, falta de concentração e maior risco de desenvolver quadros graves de depressão.

“Jovens e crianças que não têm uma boa noite de sono apresentam dificuldades para a prática de atividades físicas em função do cansaço provocados pelo déficit do sono, por exemplo. Tanto a família, quanto os professores, devem estar atentos a estes comportamentos”, alerta a psicóloga.

O educador pode orientar os pais quando identificar estes pontos. Para isso, Giovina compartilhou alguns hábitos que podem ajudar crianças e adolescentes, como também adultos, a terem uma noite de sono melhor. Confira:

  • Ruídos excessivos atrapalham o sono. Por isso, preze por um bom isolamento acústico do ambiente;
  • A luz intensa à noite também pode prejudicar o sono, estimulando o estado de alerta. Entretanto, é importante que as crianças permaneçam sob a luz solar durante as manhãs, pois esta exposição ajuda a regular o sistema biológico e contribui com o sono à noite;
  • O equilíbrio alimentar reflete na qualidade do sono, logo, não aconselha-se dormir sem se alimentar ou após refeições muito pesadas;
  • Exercícios físicos ajudam a regular o ciclo sono-vígila, mas podem atrapalhar quando ocorrem próximo ao horário reservado para dormir;
  • Estabelecer horários regulares para dormir e acordar também auxilia o ritmo do organismo neste sentido. Portanto, deve-se evitar cochilos em períodos alternativos.

O “novo normal” e as noites mal dormidas entre as crianças e adolescentes

Para completar, Giovina destaca que os efeitos da pandemia nas crianças são extremamente preocupantes e que isso também é um fator que pode impactar na qualidade do sono infantil atual.

Isso porque as rotinas das famílias mudaram do dia para a noite. Nesta adaptação, muitas crianças não receberam a devida atenção no que diz respeito aos horários de dormir, alimentação e lazer.

Tivemos que ir na contramão do uso de telas entre adultos e crianças. Com a pandemia, os contatos e atividades passaram a ser através delas e esse uso excessivo não é benéfico aos pequenos e aos jovens”, completa.

Além disso, em seus estudos sobre qualidade de vida e do sono em adolescentes obesos, por exemplo, Giovina identificou a maior prevalência de perturbações de sono e piora na qualidade entre grupos diagnosticados com este distúrbio de excesso de peso corporal: “Como reflexo de noite mal dormidas, esses jovens apresentam uma qualidade de vida inferior”.

Mas foi observado e constatado através da literatura, também, que é expressivo o número de crianças e adolescentes saudáveis que apresentam problemas relacionados ao comportamento do sono por questões sociais e culturais”, enfatiza.

Concluindo, de acordo com a especialista, a qualidade e quantidade adequada do sono são condições vitais para o desenvolvimento infantil, no que diz respeito à sua saúde física e emocional, como também ao aprendizado, memória, convívio social e familiar.

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